quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Enfermeiro indígena de São Paulo de Olivença é o primeiro amazonense a graduar-se em Enfermagem pelo Centro Universitário de Anápolis (GO).


O tikuna Jorge Luiz Rosindo, 29, é mais um indígena a concluir um curso superior e a retornar à aldeia de origem para desenvolver os conhecimentos adquiridos durante a graduação em benefício dos próprios “parentes”. Após receber aulas particulares de Língua Portuguesa e até morar em um orfanato nos últimos quatro anos, Jorge colou grau em janeiro passado e é o primeiro amazonense a graduar-se em Enfermagem pelo Centro Universitário de Anápolis (GO).
O registro no Conselho Regional de Enfermagem (Coren) foi intermediado esta semana pelo Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (Seind), e a viagem para Campo Alegre, localizada no município de São Paulo de Olivença (a 988 quilômetros de Manaus), está prevista para o próximo fim de semana.
Jorge Luiz quer seguir o exemplo das tariana Maria Rosineide Feitoza e Eufélia Lima, que se graduaram em Enfermagem no ano passado pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e optaram pelo Alto Rio Negro (onde vivem os indígenas tariano) para exercer a profissão.
A meta do tikuna é realizar trabalhos relacionados ao uso de álcool pela juventude indígena de São Paulo de Olivença. “Foi o tema do meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) e é um assunto sério, que tem comprometido a vida de muita gente dentro da aldeia”, disse Jorge Luiz. “Quero ajudar o meu povo”, justificou.
Prevenção
O envolvimento da Seind com a problemática vai muito além do apoio prestado pelo órgão ao mais novo enfermeiro indígena. Nos últimos anos, a secretaria tem trabalhado na elaboração de um programa voltado ao desenvolvimento de atividades de atenção e prevenção, não somente ao uso de álcool, mas também a outras drogas.
As ações também visam atender a outras regiões do Estado, por meio da Câmara Técnica “Qualidade de Vida dos Povos Indígenas”, do Comitê Gestor de Atuação Integrada entre o Governo do Amazonas e a Fundação Nacional do Índio (Funai).
Os planos de trabalhos são desenvolvidos em parceria com instituições como o Conselho Estadual de Entorpecentes (Conen), Exército e Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs), com ações que vão desde a realização de oficinas e palestras de conscientização, à criação de agentes multiplicadores.
Início difícil
O caminho de Jorge Luiz até a faculdade começou no Seminário Teológico Evangélico da Tribo Tikuna, localizado em Benjamin Constant (a 1.116 quilômetros de Manaus). Lá, ele foi incentivado por um pastor a fazer o vestibular em Anápolis.
O receio em deixar a aldeia e mudar-se para um local até então desconhecido por ele deixou o indígena apreensivo, mas a recompensa veio logo em seguida. Jorge foi aprovado em segundo lugar no certame e ainda recebeu uma bolsa de estudo integral para fazer a faculdade.
No início, a maior dificuldade foi com o idioma. Em Campo Alegre prevalece a língua tikuna e, a exemplo dos outros seis irmãos, Jorge tinha dificuldade de aprender, por conta do pouco contato com a população não indígena de São Paulo de Olivença. Mas, com o reforço de uma professora de português goiana, o problema foi amenizado.
Enquanto estudava, Jorge precisou ser abrigado no Instituto Cristão Evangélico de Goiás e, após um ano e meio de curso, começou a fazer estágio no laboratório de um hospital em Anápolis.  
A cerimônia de formatura ocorreu no dia 24 de janeiro de 2013. “Agradeço ao pastor Rocindes Corrêa, ao pessoal da Unievangélica, à Seind e à minha família pelo apoio”, disse ele, emocionado.
Fonte: D24.com.br, 15 de Fevereiro de 2013. 

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